Qual é o valor de um Oscar para a história de um filme?

Em época de Oscar, uma pergunta volta a rondar a cabeça de quem se interessa pela premiação: qual é o verdadeiro valor de uma estatueta para quem a ganha? Há resposta fácil, mesurável, imediata para essa pergunta: um Oscar significa que um filme irá arrecadar mais dinheiro, no cinema ou em DVD; que um ator ou atriz terá seu cachê aumentado nos futuros trabalhos.

Mas, deixando de lado a questão monetária, qual é o valor de um Oscar para a história de um filme ou de intérprete? Em outras palavras: o que o prêmio significa em termos de posteridade? Essa resposta é um pouco mais complexa. Mas eu arrisco dizer que o Oscar não vale muito. Porque não funciona como selo de qualidade.

Como todos os outros prêmios, ele está sujeito às subjetividades daqueles que votam (no caso, muitas subjetividades, já que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem 5.755 membros), que por sua vez estão sujeitos às modas, aos boatos, ao marketing, ao jabá etc.

É um tanto óbvio o que vou dizer, mas a melhor medida para garantir a posteridade de algo - de qualquer coisa, incluindo de um filme - é o tempo. Não é uma medida perfeita. Há obras-primas que nunca são descobertas. Há mediocridades que perduram. Mas ainda não criaram outro melhor. É como a democracia como sistema de governo: não é grande coisa, mas é o melhor que inventaram.

Exemplo clássico: em 1941, “Cidadão Kane” perde o Oscar de melhor filme para “Como Era Verde o Meu Vale”. Como se sabe, o filme de Orson Welles depois se tornaria quase uma unanimidade como o melhor da história. Já “Como Era Verde o Meu Vale”, ainda que um trabalho digno do mestre John Ford, seria pouco a pouco esquecido. A equação é simples: Tempo > Oscar.

Outro exemplo: em 1976, “Rocky, o Lutador” ganha de “Taxi Driver” na mesma categoria. Embora o filme de Sylverter Stallone seja melhor do que tudo o que o ator fez depois, ele certamente é menor do que a obra-prima de Martin Scorsese. E naquele mesmo ano concorriam ainda “Rede de Intrigas” e “Todos os Homens do Presidente”. Se pensarmos em tempos mais recentes, ganhadores do Oscar como “O Paciente Inglês”, “Shakespeare Apaixonado”, “Chicago” e “Crash” levaram menos de duas décadas para serem esquecidos. O tempo costuma corrigir as injustiças e distorções dos prêmios.

Isso não significa que o Oscar esteja sempre fora de compasso. Há outros tantos casos em que o prêmio chamou atenção para filmes que depois garantiriam seu lugar na história, como “O Poderoso Chefão”, partes 1 e 2, “O Silêncio dos Inocentes”, “Os Imperdoáveis” e, mais recentemente, “Onde Os Fracos Não Têm Vez”.

Em relação aos intérpretes, existe até o mito de que um Oscar seria antes uma maldição do que uma bênção para a carreira. Existem vários casos de atores e atrizes que entraram em decadência depois de ganhar uma estatueta, como Cuba Gooding Jr., Nicolas Cage, Halle Berry, Nicole Kidman, Gwyneth Paltrow, Adrien Brody. Mas é claro que é apenas uma desculpa esotérica para más escolhas que eles fizeram depois. Ninguém poderá dizer que Meryl Streep foi amaldiçoada pelo Oscar. O tempo, sempre ele, provou que sua primeira estatueta, por “Kramer vs. Kramer” (1980), estava longe de ser um acaso.

Fonte: ultimosegundo.ig.com.br

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