Razões para tentar o parto normal

Como a natureza quer: se o parto normal é o desfecho natural de uma gravidez, por que fugir dele antes mesmo de saber se uma cesárea é de fato indicada para o seu caso? O ideal é que o bebê escolha o dia em que quer nascer. É claro que, na hora do parto, às vezes surgem complicações. Aí, sejamos justos, a cesariana pode até salvar a vida da mãe e do filho.

Mas, quando a cirurgia é agendada com muita antecedência, corre-se o risco de a criança nascer prematura, mais magra e com os músculos ainda não completamente desenvolvidos.

A criança respira melhor: Quando passa pelo canal da vagina, o tórax do bebê é comprimido, assim como o resto do seu corpo. Isso garante que o líquido amniótico de dentro dos seus pulmões seja expelido pela boca, facilitando o primeiro suspiro da criança na hora em que nasce. Sem falar que as contrações uterinas estressam o bebê – e isso está longe de ser ruim. O hormônio cortisol produzido pelo organismo infantil deixa os pulmões preparados para trabalhar a todo vapor. A cesárea, por sua vez, aumenta o risco de ocorrer o que os especialistas chamam de desconforto respiratório. Esse problema pode levar a quadros de insuficiência respiratória e até favorecer a pneumonia.

Acelera a descida do leite: Durante o trabalho de parto, o organismo da mulher libera os hormônios ocitocina e prolactina, que facilitam a apojadura. No caso da cesárea eletiva, a mulher pode ser submetida à cirurgia sem o menor indício de que o bebê está pronto para nascer. Daí, o organismo talvez secrete as substâncias que deflagram a produção do leite com certo atraso – de dois a cinco dias depois do nascimento do bebê. Resumo da ópera: a criança terá de esperar para ser amamentada pela mãe.

Cai o mito da dor: Por mais ultrapassada que seja, a imagem de uma mãe urrando na hora do parto não sai da cabeça de muitas mulheres. Segundo os médicos não há o que temer. A analgesia é perfeitamente capaz de controlar a dor. Isso porque há mais de dez anos os médicos recorrem a uma estratégia que combina a anestesia raquidiana, a mesma usada na cesárea, e a peridural. A paciente não sofre, mas também não perde totalmente a sensibilidade na região pélvica. Dessa forma, ela consegue sentir as contrações e até ajudar a impulsionar a criança para fora.

Recuperação a jato: 48 horas após o parto normal, a nova mamãe pode ir para casa com o seu bebê. Em alguns casos, para facilitar a saída da criança, os médicos realizam a episiotomia, um pequeno corte lateral na região do períneo, área situada entre a vagina e o ânus. Quando isso acontece, a cicatrização geralmente leva uma semana. Já quem vai de cesariana recebe alta normalmente entre 60 e 72 horas após o parto e pode levar de 30 a 40 dias para se livrar das dores.

Mais segurança: Como em qualquer cirurgia, a cesárea envolve riscos de infecção e até de morte da criança. Cerca de 12% dos bebês que nascem de cesariana vão para a UTI. No parto normal, esse número cai para 3%.

A sensação da cesariana é semelhante à de qualquer outra cirurgia no abdômen. É, enfim, como extrair uma porção do intestino ou operar o estômago. E, convenhamos, o clima de uma sala cirúrgica não é dos mais agradáveis: as máscaras dos médicos, a sedação, a dificuldade para se mexer.

 

Mentiras sobre o parto Normal

Abaixo você confere algumas mentiras e tabus sobre esta técnica de parto, para que você fique mais tranquila e informada sobre o assunto.

Se você não tiver uma boa musculatura na barriga não conseguirá ter uma parto normal. Isso é totalmente mentira. Caso a mãe tenha uma boa musculatura da barriga isso ajudará na hora de empurrar o bebê, porém isto não irá ser o fato principal na hora de ter ou não uma parto normal.

Existe um limite de idade para fazer parto normal. Esta mentira é uma das mais faladas e não tem nada a ver. Na realidade se o seu médico verificar que está tudo certo com você e com o seu bebê você pode fazer o parto normal sem nenhum problema.

A mulher tem até oito horas para ter dilatação, caso ao contrário ela terá que fazer uma cesariana. Isto não é verdade. O correto é que a mulher passar por um trabalho de parto chamado latente que vem antes do ativo e que pode durar até 20 horas. Depois de entrar realmente em trabalho de parto ela pode levar até 8 horas para conseguir ter o bebê.

 

Posições para o parto: a escolha é sua

Se há um momento na vida da mulher em que a liberdade de escolha se faz decisiva, é a hora do parto. Para garantir que suas preferências serão atendidas, procure se cercar de profissionais conhecidos por respeitar o protagonismo feminino no parto. Durante as contrações, permita-se fazer aquilo que o seu corpo estiver pedindo.

Pergunte a qualquer mulher que já tenha passado por um parto natural, sem intervenções, a quem foi garantido o direito de se movimentar livremente: a escolha da posição durante as contrações e o período expulsivo não passa pela razão, é totalmente instintiva. E varia imensamente de mulher para mulher.

É incrível como, em meio a sensações tão intensas, contrações que vêm e que vão como ondas, o corpo sabe exatamente o que fazer para encontrar conforto: se acocorar, como sempre fizeram as índias, ou relaxar na água quentinha da banheira, acessório indispensável nas mais modernas salas de parto normal. Entre tantas outras possibilidades.

Ao longo da história, as mulheres sempre preferiram as posições verticais para dar à luz seus filhos. A cadeira de parto mais antiga de que se tem notícia é da Idade da Pedra.

Foi o obstetra francês François Mauriceau (1637-1709), profissional altamente conceituado entre a realeza da época, quem primeiro pôs em prática a ideia de colocar deitada a mulher em trabalho de parto. Fez isso, diga-se em seu favor, para conforto delas, que tinham quilos demais para se sentar confortavelmente nas cadeiras de parto. Querendo ajudar, cometeu aquele que seria considerado por muitos como o maior erro da história da Obstetrícia.

O fato é que a ideia de Mauriceau se disseminou. E veio mesmo a calhar quando o atendimento ao parto deixou o ambiente domiciliar, onde era realizado principalmente por parteiras, e passou para o hospital: essa era (e ainda é) a posição de maior conforto para a figura que se tornou também a grande protagonista do parto, o médico obstetra.

Hoje a posição deitada de costas na cama com as pernas apoiadas em perneiras está tão arraigada em nossa cultura que continua sendo uma das mais frequentes em nossos hospitais, apesar de todas as recomendações em contrário. Entrou também para o imaginário das próprias mulheres, que, quando não são informadas sobre outras opções durante o pré-natal, acabam sendo pouco receptivas a sugestões de posições alternativas no momento do parto.

Quatro ou seis apoios – A mulher se apoia sobre as mãos e joelhos (podendo usar também os cotovelos). Indicada quando a parturiente sente dores muito fortes nas costas, pois oferece alívio para essa região.

São muitas as posições possíveis (algumas das mais comuns são mostradas e comentadas nas fotos que ilustram esta reportagem, extraídas do livro Parto com Amor), mas, na prática, poucos profissionais costumam sugeri-las às parturientes.

O principal é a liberdade de escolha por parte da mulher, tanto no período de dilatação do colo uterino, quanto no período de expulsão do bebê. Existe também a deambulação, ou seja, de poder andar durante o trabalho de parto. O profissional de saúde que atende o parto, quer seja parteira, obstetriz, enfermeira obstetra, médico obstetra ou médico de família, deve proporcionar isso a ela.

A mulher tem que ficar na posição em que se sentir mais confortável. Seja para aliviar a dor, seja para fazer força.

Parece óbvio, mas não tem sido fácil nem para as mulheres, nem para as equipes de assistência ao parto colocar essa orientação em prática no ambiente hospitalar, com todas as suas regras e protocolos.

Uma mulher que havia tentado um parto normal num hospital universitário de São Paulo. Ela contou que, sentindo contrações, viu na parede o quadro Caminhando para o parto normal, com algumas sugestões de posições. (Foto acima)

Sozinha na sala, passou a procurar sua posição de conforto. Encontrou alívio “de quatro”, em cima da cama. Surpreendida nessa posição por uma enfermeira, levou bronca: Onde você pensa que está para ficar desse jeito?.

Quem conhece um pouco a fisiologia do parto – um processo natural muito delicado, que, entre outras coisas, requer tranquilidade, intimidade e apoio –, consegue imaginar o fim dessa história: o trabalho de parto “não evoluiu” e ela teve uma cesárea, que não desejava. Essa mulher estava grávida pela segunda vez e procurava se informar melhor sobre suas opções para o parto, numa tentativa de recuperar o que lhe havia sido negado no nascimento do primeiro filho.

Cócoras na banqueta – A banqueta serve como um apoio que ajuda a mulher a se manter nessa posição. A ação da gravidade facilita a saída do bebê, porém aumenta a chance de rotura do períneo.

Esse caso mostra que em muitos hospitais, mesmo nos de ensino, onde as boas práticas deveriam ser a regra, a liberdade de escolha de posição continua apenas no cartaz pendurado na parede. No dia a dia desses hospitais, todas as parturientes são deitadas de costas na cama, em posição horizontal, que sabidamente dificulta a chegada de oxigênio para o bebê e provoca mal-estar na mãe. Por que isso acontece? Boa pergunta!

A censura contra mulheres que optam por posições ditas alternativas durante o parto também aconteceu na Inglaterra, na década de 1980. E foi o estopim de uma passeata que levou seis mil pessoas a protestar nas ruas de Londres.

Por outro lado, várias mulheres atendidas por equipes humanizadas relataram que em certo momento do parto se sentiram desconfortáveis, sem conseguir encontrar posição, até que alguém sugeriu. Ir do quarto para a sala e agachar apoiada na rede. Sair da banheira e usar a banqueta de parto. Ou ainda ir da cama para a banheira. E funcionou! O trabalho de parto engrenou e o bebê nasceu algumas contrações depois. Isso mostra que cada mulher, quando deixada livre para escolher – amparada por profissionais que acreditam em seu protagonismo – encontra o seu jeito de dar à luz, aquele que é o melhor para ela e o seu bebê naquele momento.

Quando tem liberdade de movimentos durante o trabalho de parto, a mulher vai mudando de posição conforme o corpo pede. O profissional também pode sugerir uma mudança, quando percebe que a parturiente está desconfortável. Ou, por exemplo, se ela reclama de cansaço. Nesse caso, ela não pediu para mudar de posição, mas deu uma dica de que algo não está bom.

A influência da posição da mulher no sucesso do trabalho de parto é tão grande que este pode ser também um recurso adotado pelo profissional para superar uma dificuldade no parto. Quando o bebê está com o dorso à direita (o mais comum é à esquerda), por exemplo, o ideal é a mulher deitar do lado esquerdo, o que ajuda o bebê a virar. Mudando a mulher de posição, conseguesse corrigir alguns vícios de apresentação do bebê.

Lateral (posição de Sims) As posições laterais são muito confortáveis para a mulher, que assim pode apoiar o peso da barriga na cama. Durante as contrações, puxa um joelho em direção ao corpo, podendo assim fazer força durante o período expulsivo. Nessa posição o bebê sai de forma mais controlada, o que protege o períneo.

Os profissionais é que tem que se adequar. Lógico que estamos falando de um parto natural, em que não se está fazendo nenhuma intervenção. Se houver necessidade de um procedimento – fazer um toque vaginal, romper a bolsa, aplicar fórceps, vácuo-extração ou mesmo numa cesárea – a comodidade tem de ser do profissional.

Para desfrutar plenamente dessa liberdade de escolha, o ideal é que a gestante se informe das possibilidades durante o pré-natal e conversar sobre suas preferências com o profissional que vai atendê-la. Tudo isso deve ser registrado por escrito no plano de parto, um documento que consolida tudo o que foi combinado entre paciente e profissional.

O ápice da liberdade de posição e de movimentos durante o parto é quando a própria mulher consegue “pegar o bebê”. Partos em que isso aconteceu ficam registrados na memória da equipe. Como a de cócoras com um joelho apoiado, por exemplo.

Posição obstétrica - Mais utilizada quando é necessário fazer alguma intervenção médica. O dorso da cama deve ser elevado, evitando a compressão de vasos sanguíneos importantes que poderia prejudicar a oxigenação do bebê.

*As fotos desta reportagem fazem parte do livro Parto com Amor, de Luciana Benatti e Marcelo Min, lançado em maio de 2011 pela editora Panda Books.

Fonte: www.sempretops.com / casamoara.com.br / bebe.abril.com.br

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