Topetudos sertanejos' se multiplicam com cara de mau e letras do bem

Em cima, da esquerda: Erick Montteiro, Gusttavo Lima e Cristiano Araújo em fotos de divulgação; embaixo: Thiago Brava, Luan Santana, Lucas Lucco em 'selfies' dentro de carros (Foto: Divulgação / Facebook dos artistas)

Ele usa topetão, óculos escuros e barba por fazer. Cultiva a face "bad boy" em fotos nas redes sociais, mas entrega o lado bom moço em letras e clipes emotivos. Dez músicas entre as cem mais tocadas no Brasil hoje são dele, segundo levantamento da Crowley, empresa de monitoramento de rádio. Ele é o "sertanejo topetudo", cantor que alterna cara de mau e jeitinho fofo. Neste perfil se encaixam Luan Santana, Gusttavo Lima, Lucas Lucco, Cristiano Araújo, Erick Montteiro e outros. A semelhança visual impressiona.

O topete é o denominador comum que mais chama atenção, entre outras tendências musicais e de estilo. Tatuagens e corpo malhado entram na fórmula. Os únicos músculos fracos são os do coração, vide versos hiperbólicos como de "11 vidas", de Lucas e "Cê que sabe", de Cristiano, ambos hits atuais. Até o nome com letra dobrada é multiplicado, vide Gusttavo, Montteiro e Lucco.

Nas letras e nos vídeos, sai a "pegação na balada" e entra o bom-mocismo. O fenômeno já superado dos hits sertanejos com interjeições sexuais ("Lê lê lê", "Parapapá", "Tchu, tcha") dá lugar a juras de amor duradouro. Lucas Lucco promete "ir até o fim" com a amada com câncer ("Mozão") e homenageia o pai aos abraços ("'11 vidas"). Luan abraça cachorrinhos ("Cê topa") e encarna o amor para a vida toda vestido de velhinho ("Te vivo").

Há cada vez menos espaço para os "casos de balada" (Thiago Brava já incorpora o visual topetudo, mas ainda se detém na "pegação"). A grande onda é ser do bem. Gusttavo Lima, que ficou famoso quando exaltou o "tchê tchererê", agora fala de fidelidade ("Fui fiel") e antigas promessas de amor ("10 anos").

 

Topetes em alta: modernos e românticos

Na música e no visual, os "sósias" se equilibram entre o amante à moda antiga e o jovem antenado. O topete armado com os lados raspados é perfeito para este objetivo,

explica o cabeleireiro Celso Kamura.

"Dá um ar modernoso, mas é bem masculino."

Kamura entende de madeixas ao alto: ele corta os cabelos da presidente Dilma Rousseff e do estilista Alexandre Herchcovitch.

"Há anos faço o cabelo do Herchcovitch assim [lados rentes e topo cheio]".

"A gente já conhece esse corte há muito tempo. O sertanejo está usando, mas não foram eles que começaram",

diz Kamura.

O jogador David Beckham é um exemplo capilar citado por ele. No futebol, Neymar também já passou por este corte.

"Como é raspado na lateral, dá uma levantada na expressão. Para quem tem volume no cabelo é muito bom",

elogia. Ele diz que tem recebido cada vez mais pedidos de corte semelhante.

"É basicamente a mesma pessoa. Quando vi a imagem [que abre a matéria], achei que o segundo era o Luan Santana, depois vi que não. É difícil diferenciar",

confunde-se Eduardo Viveiros, especialista em estilo masculino, que trabalha com Gloria Kalil.

"É o mesmo produto embalado com músicas diferentes".

"De sertanejo o visual não tem nada. É mais para urbano".

Sobre as roupas usadas - couro, jeans justos, camisas sobrepostas - Viveiros diz que o padrão "é o clichê da roupa roqueira, de quem quer quer mostrar que estar antenado".

Viveiros observa um paralelo mais antigo entre o sertanejo e o rock, e relativiza a novidade do fenômeno:

"Se você pensar bem, entre os anos 80 e 90, o figurino do Zezé di Camargo & Luciano, com calças apertadas e aqueles cabelos [com mullet], não eram tão diferente de Bon Jovi e outros roqueiros de fora. É mais uma coisa de década que de estilo musical".

Fonte: g1.globo.com

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