A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal do organismo cai abaixo do normal (35°C), de modo não intencional, sendo seu metabolismo prejudicado. Se a temperatura ficar abaixo de 32°C, a condição pode ficar crítica ou até fatal. Temperaturas quase sempre fatais, são aquelas abaixo de 27°C. No entanto, há relatos de sobreviventes com temperaturas inferiores à 14°C.
A hipotermia pode ser atingida rapidamente, por exemplo na imersão em água gelada ou no contato direto com neve e gelo, ou lentamente, quando da exposição do atleta a temperaturas ambientais frias, se agravando muito quando há vento, umidade ou chuva.
O corpo humano tem um mecanismo próprio de controle da sua temperatura, chamado Mecanismo Termorregulador. Ele envolve centros e vias nervosas e químicas no cérebro, medula espinal e nervos por todo o corpo, além de receptores especiais de temperatura. Nossa temperatura central deve ser mantida rigorosamente entre 36,5o C e 37,5o C. Além desse limite inferior surgem vários sintomas, desde arrepios e tremores, até a morte.
Quando as terminações nervosas detectam uma queda na temperatura, além da sensação subjetiva de frio e arrepios, surge uma vasoconstrição (diminuição do calibre) dos vasos sangüíneos principalmente da pele. Por isso a pele fica fria. Essa é a resposta inicial do corpo, no sentido de diminuir a perda de calor, mantendo a temperatura corporal interna. Quando essa vacoconstrição não é eficiente para evitar a queda da temperatura, surgem os tremores.
Os tremores são contrações involuntárias dos músculos esqueléticos, contração essa que gera calor. Se a exposição ao frio ambiental é prolongada, os tremores diminuem ou cessam, surgem alterações mentais e diminue a performance motora. Progressivamente há um colapso do mecanismo termorregulador, inclusive com vasodilatação na pele e conseqüente perda de calor para o exterior. Assim, fecha-se um ciclo vicioso e o atleta começa a diminuir seu nível de consciência (fica prostrado, sonolento, torporoso), as funções vitais se alteram (principalmente freqüência cardíaca, respiratória e pressão arterial), até a morte. No decorrer desses eventos, podem surgir lesões pelo frio, principalmente nas extremidades (mãos, pés, nariz, orelha e lábios), das quais a mais grave é o congelamento.
A hipotermia acomete militares, navegadores oceânicos, equipes de resgate, caçadores, esportistas, aventureiros e moradores de rua em áreas urbanas e rurais, que podem sucumbir ao relento (o que acontece infelizmente com muitos indigentes nas cidades brasileiras). É também um problema em grandes catástrofes como inundações e terremotos.
Relatos antigos
Os efeitos do frio intenso sobre a performance humana têm várias passagens na história militar e foi um grande inimigo natural em famosas batalhas da História. Há relatos de que Alexandre, o Grande, foi resgatado certa vez em estado comatoso por hipotermia, ocorrendo o mesmo com soldados romanos atravessando os Alpes.
Estima-se que Aníbal perdeu aproximadamente 20.000 de seus 46.000 soldados no ano 218 a. C., no norte da Itália. Napoleão perdeu igualmente boa parte de seu exército pela ação do frio e relata-se que muitos dos soldados sobreviveram se protegendo com "carcaças" de cavalos mortos. Na Primeira Guerra Mundial, os aliados tiveram cerca de 235.000 baixas relacionadas ao frio europeu intenso. Na Segunda Grande Guerra, americanos e alemães tiveram cerca de 190.000 soldados lesados seriamente pelo frio. Na Guerra da Coréia, cerca de 10 % dos soldados americanos mortos sucumbiram pelo frio.
Nas últimas décadas, são inúmeras as descrições de ocorrências fatais por hipotermia nos mais diversos esportes. O atleta de esportes de aventura comumente se defronta com temperaturas ambientais muito baixas. Principalmente em modalidades como caminhadas, travessias polares, escaladas e esportes aquáticos (vela, canoagem e mergulho por exemplo). Mesmo nos grandes ralies internacionais, há casos de hipotermia (no Rally Granada - Dakar, por exemplo, no deserto, os competidores enfrentam temperaturas diurnas em torno de 45 - 50o C e horas depois, à noite, níveis próximos de 0o C).
No naufrágio do Titanic, a maioria dos passageiros morreram de hipotermia devido à temperatura da água do Norte do Atlântico.
No Brasil, são raros os locais e épocas do ano onde a temperatura ambiental é negativa. Mesmo assim, algumas modalidades esportivas podem levar à hipotermia em nosso meio, entre elas as corridas (triatlon, maratonas, race adventures, etc.), canoagem, trekking, escaladas, entre outras.
Tipos
A hipotermia pode ser classificada em três tipos: a aguda, subaguda e crônica.
- A aguda é a mais perigosa, onde há uma brusca queda da temperatura corporal (em segundos ou minutos), por exemplo quando a pessoa cai em um lago com gelo.
- A subaguda já acontece em escala de horas, comumente por permanecer em ambientes frios por longos períodos de tempo.
- A crônica é comumente causada por uma enfermidade.
Vejamos abaixo quais são os principais sinais e sintomas de cada tipo de hipotermia:
Leve (35 a 33ºC): Sensação de frio, tremor, diminuição da atividade motora (letargia ou prostração), espasmos musculares, alteração da marcha (o atleta parece perder parte do equilíbrio ao caminhar). A pele fica fria, as extremidades (ponta dos dedos, lábios, nariz, orelhas) mostram tonalidade cinzenta ou cianótica (levemente arroxeada). A vítima mostra sinais de confusão mental. Nessa fase, o diagnóstico de hipotermia muitas vezes nem é lembrado, pois o quadro pode sugerir uma exaustão física ou um distúrbio hidro-eletrolítico (desequilíbrio envolvendo hidratação e "sais minerais")
Moderada (33 a 30ºC): Os tremores tendem a ir desaparecendo. O atleta começa a ficar muito prostrado, sonolento, quase inconsciente. Há mudança do humor (irritabilidade, agressividade, depressão). Algumas vezes pode ocorrer inclusive euforia e perda da auto-crítica. Tudo isso confunde quem examina pois pode parecer que o atleta "deu uma melhorada", mas na realidade está piorando gravemente fica desorientado, com rigidez muscular, alterações da fala e da memória. A freqüência cardíaca fica mais lenta ou irregular.
Grave (menos de 30ºC): O atleta fica inconsciente e imóvel. As pupilas tendem a dilatar e a freqüência cardíaca e respiratória são quase imperceptíveis. A manipulação do atleta deve ser muito delicada, pois do contrário, podem ser desencadeadas arritmias cardíacas graves. Se não for controlada a situação, a morte é inevitável.
Detalhe: a vítima em hipotermia grave tem uma depressão tão importante da consciência, da respiração e dos batimentos cardíacos que pode parecer estar morta. Tanto assim que é importante reaquecer o paciente e tentar manobras de ressuscitação intensas antes de dar o diagnóstico de morte.
Etapas
Primeira etapa - A temperatura corporal cai de 1 a 2 graus Celsius abaixo da temperatura normal. A pessoa tem arrepios, a respiração se torna rápida, as mãos ficam adormecidas com dificuldade de utilizá-las para efetuar tarefas.
Segunda etapa - A temperatura corporal cai de 2 a 4 graus Celsius abaixo da temperatura normal.Os arrepios são mais intensos, os movimentos são lentos. As extremidades ficam azuladas, há um pouco de confusão. Apesar disto a vítima está consciente.
Terceira etapa - Em geral os arrepios cessam, surgem sinais de amnésia, impossibilidade de usar as mãos, diminuição do pulso e respiração. Diminuição da atividade celular. Falha dos órgãos vitais. Morte clínica.
Primeiros socorros
Antes de mais, é necessário induzir um aquecimento na vítima o mais rápido possível. O meio mais simples é o banho quente, por volta dos 40ºC, se é possível.
Nos outros casos, é necessário tentar colocar a pessoa próxima a uma fonte de calor e dar-lhe (se está consciente) bebidas quentes (não muito quente porque poderia ocasionar choque de temperatura) energéticas e açúcar. Devem-se, para além disso, retirar as roupas frias ou húmidas e substitui-las com vestuário quente e seco. Se a respiração e o batimento cardíaco pararam, é necessário executar imediatamente uma respiração boca-a-boca e uma massagem cardíaca externa. A reacção dos hipotérmicos é nestes casos é óptima. É necessário chamar uma ambulância e esperá-la no local onde se encontra a vítima. Não administrar nunca álcool ou medicamentos pois estas ações desviarão a circulação (que já está comprometida dos órgãos internos, podendo agravar a situação).
Chamar socorro especializado, aquecer as axilas e pernas (pode ser com garrafas com água morna envolvidas em meias), monitorar as funções vitais da vítima e estar preparado para ressuscitação cardio-pulmonar.
Se a hipotermia ficou severa notavelmente e a pessoa está incoerente ou inconsciente, reaquecimento deve ser feito sob circunstâncias estritamente controladas em um hospital. Leigos devem apenas remover a vítima do ambiente gelado, dar bebida quente e levar a pessoa para o cuidado médico o mais rápido possível. Na hipotermia o reaquecimento rápido pode causar arritmia cardíaca.
Fonte: webventureuol.uol.com.br / pt.wikipedia.org
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