Se infância é época de crescer, fica fácil entender por que, sem a bebida e seus derivados, não há criança saudável. Afinal, os lácteos fornecem o que o esqueleto mais precisa para se desenvolver: cálcio, muuuito cálcio.
Tomar leite é um grande negócio quando se é pequeno. Os bebês fazem a coisa certa e se empanturram do alimento — se até os 6 meses a opção disponível no cardápio for a versão materna, tanto melhor para eles. O problema é quando, crescidinha, a criança “decide” que não quer mais a bebida. Geralmente isso acontece quando o hábito de beber leite não é estimulado desde a mais tenra infância, logo que o pequeno dá adeus ao peito da mãe ou à mamadeira.
Já quando a família incentiva a mania, os ossos agradecem. É durante a infância e a adolescência que ocorre um maior depósito de massa óssea no esqueleto. E para isso é preciso matéria-prima, ou seja, cálcio disponível no organismo. Mais do que um investimento a curto prazo, capaz de garantir o crescimento da criança, fornecer o mineral é formar uma poupança capaz de afastar o risco de osteoporose e fraturas na idade madura, ou seja, lá em um futuro longínquo.
Quando se avalia o consumo de lácteos em geral, o Brasil ocupa uma enfraquecida posição de lanterninha. Enquanto a Organização Mundial da Saúde recomenda que cada cidadão mirim do planeta consuma pelo menos 175 litros desses produtos por ano, a média brasileira fica em 130 litros por criança. Um pequeno dinamarquês, enquanto isso, sorve 405 litros de leite e outras bebidas lácteas; um francesinho não fica por muito menos, tomando 399 litros em média ao longo de um ano; uma criança alemã se esbalda com 375 litros anuais.
A indústria brasileira, justiça se faça, tenta compensar essa desafasagem. Está virando mania nacional suprir os produtos lácteos com mais e mais cálcio, sem contar várias vitaminas, para facilitar o alcance das metas para a ingestão de nutrientes na garotada do país.
Existem casos em que a criança não suporta leite ao pé da letra – mas aí estamos falando em alergia. A maioria, porém, precisa mesmo é se acostumar com a idéia — para não dizer com o sabor.
Vamos ser claros como leite puro: as melhores fontes de cálcio de que se tem notícia são mesmo os produtos lácteos, não só o leite em si, mas também os queijos, iogurtes, pudins…
O leite de vaca é, de longe, o alimento mais rico nesse mineral, com 1,2 grama dele por litro. E, diga-se, a molécula de cálcio que ele fornece é de ótima absorção. Como uma criança a partir dos 8 anos necessita de 1,3 grama do mineral todo santo dia para o seu desenvolvimento, o cálculo é simples: ela vai precisar de cada gota de todo esse leite, o suficiente para encher quatro copos ou xícaras grandes, a fim de obter um aporte adequado. Antes dos 8 anos, a recomendação é de 800 miligramas do mineral, o que dá uns três copos.
Será que pode substituir a bebida por um de seus derivados?
Pode, mas o ideal é fazer apenas uma troca parcial. Ou seja, não substituir toda a bebida indicada conforme a idade por queijos, iogurtes e afins. Para manter a equivalência nutricional, seria preciso ingerir grandes quantidades desses outros alimentos, o que pode aumentar demais o valor calórico da dieta e elevar as chances de a criança ganhar peso em excesso.
Os substitutos do leite eleitos na infância até fornecem um bocado de cálcio, mas são sempre muito doces. Existe o risco de, na tentativa de fornecer todo o cálcio àquela criança que se recusa a tomar leite, você viciar seu paladar em alimentos açucarados quando esse sentido ainda está em formação. Os produtos lácteos industrializados, feitos para agradar a criançada, devem ser oferecidos com parcimônia, de preferência só na hora do lanche.
De olho na balança — porque a obesidade infantil é mesmo um problema sério — Leve em conta o teor de gordura, especialmente se a criança estiver gorducha.
Compare: o leite integral contém pelo menos 3,5% de gordura; no semidesnatado essa proporção é de 1,5% a 1,8%. No tipo desnatado, fica em torno de 0,3%. Em termos de proteínas e do badaladíssimo cálcio, porém, as diferenças são mínimas. Assim, às vezes vale a pena trocar o leite gordo pelo magro.
Versões fortificadas
Outro ponto a observar é se o leite é fortificado com vitaminas e minerais — o que pode acontecer com certas versões em pó e de tipos longa vida. Isso é fundamental? Em matéria de leite, se a gente pensar no papel do alimento como grande fornecedor de cálcio, pode não fazer tanta diferença, especialmente se a criança tem uma dieta superbalanceada. Agora, que isso dá uma força em um mundo onde é tão difícil encontrar uma criança com essa tal dieta equilibradérrima, ah, isso é inegável.
Em algumas crianças, o organismo reage violentamente à presença da caseína, uma proteína do leite de vaca. Seu sistema imunológico a recebe como uma instrusa e daí faz um escarcéu daqueles, que resulta em crises de diarréia, déficit de crescimento, reações de pele e problemas respiratórios — sim, em última instância, até os pulmões podem terminar vítimas desse grande mal-entendido. Aí não tem jeito. É preciso restringir terminantemente o consumo de leite e de todos os seus derivados. O problema afeta cerca de 2,5% dos pequenos menores de 3 anos. Eles, então, precisam se valer de suplementos de cálcio sob a orientação do pediatria.
No entanto, não confunda alergia com o que os médicos chamam de tolerância restritiva, porque aí o problema é diferente. Por alguma razão, provavelmente de origem genética, o organismo da criança não produz a enzima lactase, ao menos em doses suficientes. Sintetizada no intestino, ela é encarregada de quebrar as moléculas de lactose, o açúcar do leite. Quando está em falta, basta a criança engolir um pouco de leite para sentir muita dor de barriga, que pode vir acompanhada de vômito, diarréia ou, ao contrário, prisão de ventre. Mas, em casos assim — ainda bem! —, só o leite sai de cena. Seus derivados, como queijos e iogurtes, têm um nadica de lactose e, para essa meninada intolerante, não fazem mal nenhum.
Fonte: saude.abril.com.br
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